Uma pequena notável do comércio agrícola está perto de faturar seu primeiro bilhão. A Gnova Grains, trading de Londrina, deve fechar 2024 com receita próxima a R$ 900 milhões, superando as próprias projeções. A empresa esperava chegar aos nove dígitos de faturamento somente em 2027, mas, pelo andar da carruagem, a previsão poderá se concretizar já em 2025. Detalhe: o negócio existe há menos de dois anos e o momento não é dos melhores para os preços internacionais dos grãos.
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A explicação dessa ascensão meteórica pode estar na expertise de seus fundadores, atuantes no agro desde a adolescência e descendentes de produtores rurais. Ronan Giuliangeli, CEO da empresa, é filho do empresário Antonio Luiz Giuliangeli, fundador da Agro100, rede de revendas agrícolas que atualmente faz parte da Agrogalaxy (AGXY3). Foi inclusive diretor de originação na companhia – atualmente em recuperação judicial – trabalhando diretamente com seu atual sócio, Fernando Oliveira. Ambos deixaram a Agrogalaxy para tocar o próprio negócio.
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O core business da Gnova é a originação de grãos. A empresa adquire milho e soja com o produtor, cuida da logística, desembaraço fiscal e direciona o produto para o mercado interno e externo. Os sócios decidiram por começar o negócio no modelo asset light – no primeiro ano da operação, toda a armazenagem era feita pelos próprios clientes. Agora em 2024, a trading inaugurou a primeira unidade própria de recebimento e armazenagem em Vila Rica, no Mato Grosso, com capacidade para 12 mil toneladas.
Assim, a Gnova consegue acessar clientes que não possuem estrutura de armazenagem, enquanto se prepara para fazer mais investimentos em ativos próprios. Mas a empresa reconhece que utilizar armazéns de terceiros facilitou a expansão para além do Paraná, estado de origem da empresa.
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“Nascemos olhando o produtor que estava desassistido pelas grandes tradings”, afirmou Ronan, ao InfoMoney. Esse é um mercado dominado pelo ABCD do comércio agrícola – as gigantes globais Archer Daniels Midland (ADM), Bunge, Cargill e Louis Dreyfus. “A estratégia delas é comprar de grandes grandes cooperativas e empresas”, explica o executivo.
Atuação expandida
Hoje, a Gnova também atua em São Paulo, Mato Grosso, Goiás e no Pará. A expansão deve continuar pelos estados de Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Segundo Giuliangeli, a empresa tem conseguido acessar, de forma orgânica, a produção de um mesmo cliente em outros estados. “Foi com essa dinâmica que Goiás e Pará entraram em nossa operação”. A expectativa de volumes movimentados pela trading em 2024 já foi revisada para cima diversas vezes – atualmente está em torno de 650 mil toneladas de grãos.
O CEO diz que a atuação da Gnova está trazendo liquidez e uma melhor noção de preço para os produtores de menor porte. Para se diferenciar da concorrência, a empresa busca ir além da compra e venda de grãos, atuando também como uma espécie de estrategista.
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“Desenhamos uma logística para que o cliente possa retirar o produto do armazém e acomodar os grãos da próxima safra. Também podemos fazer uma posição de venda em dólar, para casar com uma compra de fertilizante importado que o produtor venha a fazer, um hedge natural sobre os custos da lavoura”, exemplifica Ronan.
Estar onde as grandes não estão implica em atuar nas regiões de infraestrutura problemática. Em Mato Grosso, por exemplo, a Gnova foi buscar clientes do lado menos pavimentado do Vale do Araguaia. “É o lado que tem mais problemas de infraestrutura, mas também o que possui mais oportunidades”, diz o executivo.
Investimento em estrutura própria
Com presença nos principais portos do país, a Gnova Grains está em “conversas embrionárias” para ter um terminal privado no chamado Arco Norte, por meio de uma joint venture com outros players do setor. “Lá para cima, vemos um potencial de crescimento maior na produção, e uma dificuldade maior em termos de infraestrutura e armazenagem”, explica Ronan.
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A Gnova também pretende ampliar suas estruturas próprias de armazenagem. “A nossa ideia é ir sentindo o mercado, entendendo como as coisas evoluem para, eventualmente, colocar mais alguns armazéns estratégicos em outras regiões”. A ordem, no curto prazo, é reinvestir na empresa todo o caixa gerado por ela.
Com exemplos recentes de recuperações judiciais no setor, Ronan reconhece que existe uma crise no agronegócio brasileiro e admite que a Gnova “tem sofrido algumas turbulências”, como todas as empresas do setor. “Mas estamos passando por isso de maneira mais tranquila, pois não trabalhamos com um modelo de negócio que financia o produtor”, afirma. “Também estamos navegando de forma mais cautelosa, clientes novos passam por toda uma análise de crédito para poder fazer parte da nossa base.”
Para o executivo, é preciso reavaliar indicadores e não se basear apenas em números de produção. “Além da lavoura, tem que olhar para a dívida do produtor e como ele está fazendo uso das linhas de crédito que possui”, conclui.