O empresário e apresentador de TV Silvio Santos morreu neste sábado (17), em São Paulo, aos 93 anos, em decorrência de uma broncopneumonia agravada após uma infecção causada pelo vírus da influenza (H1N1). Com um patrimônio avaliado em R$ 1,6 bilhão, ele deixa um legado não só ao mundo do entretenimento, como dos negócios – assim como um sonho de ser presidente da República.
Senor Abravanel, seu nome verdadeiro, construiu sua fortuna a partir de negócios muito bem conduzidos ao longo de sua carreira, que começou como camelô. Silvio tinha negócios nos segmentos de cosméticos, capitalização, mídia e comunicação, incorporação imobiliária e hotelaria, entre outros.
Os negócios estavam concentrados no Grupo Silvio Santos, criado em 1965. Por meio desta holding, ele comandava empresas muito conhecidas pelo público, já que ele usava sua TV, o SBT, um dos maiores canais do país, fundado em 1981, para divulgação.
Entre os produtos de maior sucesso estavam o carnê do Bau da Felicidade (um título de capitalização) e, mais recentemente, a partir de 2006, sua marca de cosméticos, a Jequiti, que atualmente conta com mais de 700 produtos comercializados por mais de 170 mil consultoras pelo País.
Silvio Santos foi ícone da televisão
De todas as suas atividades, porém, a mais relevante foi na televisão. Ele consolidou o SBT como um dos maiores canais do País, sobretudo por sua presença à frente dos programas dominicais, que marcaram gerações.
Ele começou na década de 1960, como apresentador na TV Paulista e na TV Tupi e, em 1963, iniciou o Programa Silvio Santos, até hoje no ar. Em meados da década, a TV Paulista é comprada pela TV Globo e o apresentador passa a atuar pela principal emissora do país, tornando-se um dos campeões de audiência do canal.
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Ao sair da Globo em 1976, passou a apresentar seu programa na Record, na Tupi e na TVS Rio, cuja concessão havia conseguido. Funda o SBT em 1981 e passa a ser o grande concorrente da Globo.
Silvio Santos presidente?
Um peculiar episódio de sua carreira aconteceu em 1989, quando se lançou como candidato à presidência da República, pelo Partido Municipalista Brasileiro, uma “nanica” agremiação da época.
Essas eleições foram as primeiras diretas (com voto da população) após um longo período de ditadura militar, que havia acabado anos antes, e o final do governo de José Sarney, primeiro presidente civil desde os anos 60, mas que foi eleito de forma indireta e enfrentou uma grave crise econômica.
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O pleito de 1989 foi marcado pela vitória de Fernando Collor sobre o atual presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e uma cédula com mais de 20 candidatos. Silvio Santos chegou a ter cerca de 30% das intenções de voto, conforme pesquisas da época.
Mas foi obrigado a deixar a disputa à presidência porque sua candidatura foi cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), devido ao fato de seu partido não ter atendido todas as exigência legais para obtenção de registro definitivo.
“Vocês vejam como é bom vivermos em um país democrático. Um garoto que era camelô, que começou vendendo carteirinhas para guardar o título de eleitor com 14 anos de idade hoje se lança candidato a presidente da República de um país como o nosso, o Brasil. Vejam como é bom viver na democracia, oportunidade igual para todos”, disse à época em uma propaganda eleitoral na TV.”
Rombo contábil
Entretanto, nem tudo foram flores em sua trajetória. Em 2011, Silvio Santos vendeu ao BTG o Banco Panamericano, após ser descoberto um rombo de R$ 4 bilhões, provocado por fraudes contábeis, entre os anos de 2006 e 2010.
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Executivos do banco faziam a venda da carteira de crédito para outras instituições, mas mantendo no balanço do Panamericano, irregularmente, como forma de maquiar e melhorar os resultados. A instituição era listada na bolsa de valores e isso levava à uma valorização fictícia do preço das ações.
Por conta de inconsistências contábeis, que não permitiam que as demonstrações financeiras refletissem a real situação patrimonial do banco, o Grupo Silvio Santos (GSS), na qualidade de acionista controlador, precisou aportar R$ 2,5 bilhões, em novembro de 2010.
O valor do depósito foi obtido mediante operação financeira contratada com o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), integralmente garantida por bens do patrimônio empresarial do Grupo, tais como o SBT, a Jequiti Cosméticos e o Baú da Felicidade.
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Após o aprofundamento das investigações, em novembro de 2010, foi revelado um rombo adicional de R$ 1,5 bilhão nos balanços do Panamericano. Em janeiro de 2011, o Grupo Silvio Santos realizou aporte adicional no valor de R$ 1,3 bilhão.
Anos depois, em 2017, por conta da Operação Conclave, da Polícia Federal, revelou-se que o apresentador de TV chegou a se reunir com então presidente, Lula, para tratar de uma solução para salvar a instituição.
Surge Silvio Santos
Silvio Santos nasceu na Travessa Bem-Te-Vi, dentro da Vila Rui Barbosa, no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro (RJ), em 12 de dezembro de 1930. Ele era filho de Rebeca e Alberto, e teve cinco irmãos: Beatriz, Leon, Perla, Henrique e Sara.
Na adolescência vendia utensílios nas ruas da capital fluminense e, no final dos anos 40, foi indicado para participar de um concurso de formação de novos locutores na Rádio Guanabara, sendo o vencedor.
Assim, começou sua trajetória na comunicação, mas seguindo na atividade de comércio como ambulante, que lhe era mais lucrativa.
Tempos depois, passou a se dedicar à comunicação, tendo tralhado nas rádios cariocas Mauá, Tupi e Continental, já adotando o nome artístico de Silvio Santos, uma inspiração vinda de sua mãe, que sempre o chamou de Silvio.
Entretenimento
Na virada da década de 40 para 50, Silvio decidiu criar um comércio de bebidas, shows e bingo na Barca da Cantareira, que atravessava a cidade do Rio de Janeiro a Niterói. O sucesso foi imediato e Silvio criou a revista “Brincadeiras Para Você”, como complemento ao entretenimento.
Logo após, se reinventou e partiu para São Paulo, em 1954. Com referência de Fernando de Nóbrega, irmão de Manoel de Nóbrega, participou de um teste e, aprovado, foi contratado pela Rádio Nacional como locutor comercial de programas.
No ano seguinte, Silvio Santos ingressou na TV Paulista (Canal 5) – atual Rede globo – e começou a fazer participações na televisão. E, em 1957, comandou sua primeira atração na TV, um programa de audições, com maestros e cantores da época.
Já com o Grupo Silvio Santos e Bau da Felicidade criados, em 1960, criou um programa para alavancar as vendas do carnê: o Vamos Brincar de Forca, uma gincana com distribuição de prêmios – o que ficou característico em toda sua trajetória.
Em 1963, na TV Paulista, inova e torna-se o primeiro grande produtor independente da TV, locando espaço dominical na programação da estação e estreando, em junho de daquele ano o Programa Silvio Santos.
Ao longo dos anos criou inúmeros quadros, como Festival da Casa Própria, Show de Calouros, Domingo no Parque, Qual é a Música, Namoro na TV, Porta da Esperança, Topa Tudo por Dinheiro, Roletrando, entre outros diversos.
SBT
Após um aporte milionário, em 1981, com o Grupo Silvio Santos por trás, conquistou a concessão do extinto canal 4 de São Paulo, inaugurado o SBT (Sistema Brasileiro de Televisão). Imediatamente, a emissora já alcançou a vice-liderança de audiência, atrás da Globo,
Parte do sucesso do SBT veio da contratação de estrelas da concorrente, como Jô Soares, que apresentou seu talk show no SBT antes de retornar à Globo. Além de programas icônicos, como Topa Tudo por Dinheiro, Show do Milhão, o reality show Casa dos Artistas.
Nos anos 90, o país viveu ainda a guerra da audiência aos domingos, em uma faixa específica, com o Domingo Legal, apresentado por Gugu Liberato, que durante anos disputava palmo a palmo a liderança na audiência com o Domingão do Faustão, comandado por Fausto Silva na Globo.
Ao longo de todos os anos, contudo, era o apresentado a estrela da emissora, com o Programa Silvio Santos, que virou sinônimo de atividade do brasileiro aos dominigos.
Ele esteve à frente dos programas dominicais e atuante até 2022, quando deixou o holofote das câmeras, após a pandemia, por problemas de saúde. Com sua saída, foi substituído pela filha Patrícia Abravanel.
Drama
Em 2001, Patrícia Abravanel, que sucederia o pai como apresentadora, foi sequestrada na porta de sua casa, no Morumbi, bairro nobre da zona sul de São Paulo.
Ela foi posteriormente libertada com pagamento de resgate, mas o sequestrador, após matar policiais em uma perseguição, invadiu a casa do apresentador e faz sua família refém, libertando posteriormente sua esposa e filhas, mas mantendo Silvio refém por sete horas.
O desfecho acontece somente após o então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, comparecer ao local para garantir a segurança do sequestrador, que acabou se entregando. No ano seguinte, o sequestrador morreu sob custódia devido a uma infecção generalizada causada por um ferimento.
Morte e enterro
A morte de Silvio Santos foi comunicada pelo SBT nas redes sociais. Ele estava internado no hospital Albert Einstein, na capital paulista, desde o início de agosto, em decorrência por uma broncopneumonia, agravada após infecção por influenza (H1N1).
Um de seus últimos pedidos foi para que sua morte não fosse explorada. Dessa forma, será enterrado em uma cerimônia judaica, sem velório, como era seu desejo, segundo comunicado da família.
Senor Abravanel deixa as filhas Cintia (do primeiro casamento com Maria Aparecida, morta em 1977) e Silvia, adotada durante o primeiro casamento. Do segundo matrimônio, com Iris, nasceram as filhas Daniela, Patrícia, Rebeca e Renata.
Ele era de uma família de classe média com ascendentes gregos e turcos. Dentre seus antepassados está Judah Abravanel, um dos fundadores do Império Otomano, avô de Don Isaac Abravanel, líder judaico que administrou a economia espanhola no reinado de Isabel e Fernando.
(Com informações SBT, Estadão Conteúdo e Reuters)