Rumores em torno de mudanças no topo da administração da Petrobras (PETR3; PETR4) acenderam o alerta de gestoras de que é preciso calma até que haja uma conclusão dos fatos. “Não mexemos no papel. Estamos parados, esperando. Estou bastante cauteloso com a situação agora. Podemos ter uma mudança política na empresa”, diz um gestor ouvido sob condição de anonimato e que possui uma posição comprada nos papéis. “Vamos voltar para 1º de janeiro de 2023 quando tínhamos um CEO que não sabíamos como ia ser o mandato e o nível dele”, completa.
As conversas sobre uma eventual saída de Jean Paul Prates do comando da estatal ganharam força após entrevista nesta semana do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, em meio a debates sobre o pagamento de dividendos extraordinários pela empresa.
Segundo fontes ouvidas pela Reuters, o nome do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, foi cotado para assumir a posição.
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Uma eventual ida de Mercadante para o cargo de CEO da petroleira evidenciaria um “processo de disputa política sem qualquer necessidade”, na visão do profissional. Embora Prates tenha um viés mais político, assim como Mercadante, o executivo afirma que o atual CEO tem uma “boa noção do setor”, ao contrário do suposto sucessor. “Prates também mostrou-se mais racional ao fazer uma administração que busca maximizar o retorno ao acionista”, pondera.
Mais ruídos políticos
Mas as especulações em torno de alterações no alto da companhia ganharam novos contornos na tarde desta sexta-feira (5). Segundo apurações da jornalista Andréia Sadi, da GloboNews, uma ala do PT estaria defendendo uma possível dobradinha na Petrobras: nesse caso, a ideia é que Mercadante assumisse o comando do Conselho de Administração, enquanto Prates seguisse na presidência.
“Colocar o Mercadante no Conselho da Petro é uma jogada política para desviar a atenção”, diz um gestor que preferiu não se identificar. Se isso ocorrer, para essa fonte, o ponto positivo é que “não mudaria muita coisa no curto prazo” para a petroleira. O profissional explica que o Conselho é um órgão que costuma ter mais importância no longo prazo para a empresa. Porém, o lado negativo, afirma, é que ministros do Governo descontentes com a gestão atual seguiriam no ataque ao atual presidente.
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Outra gestora, que também preferiu não se identificar, defende que o nome de Mercadante é um dos “piores” que já foram apresentados até então para uma eventual sucessão na presidência da Petrobras. “Ele representa uma ala Lula mais antiga e herda essa cabeça. Se ele virar CEO, de cara, acho que ele deverá acabar com o dividendo extraordinário”.
A grande questão, diz, é que a companhia torna-se atrativa em relação a outras quando ela distribui o excesso de retorno que apresentou. Sem isso, afirma a fonte, a petroleira não fica mais barata do que demais empresas globais. Pouco otimista com as interferências na empresa, a casa está atualmente com uma posição vendida (que se beneficia do recuo dos papéis) em Petrobras.
O profissional também não descarta novos ajustes para baixo nos preços dos papéis nos próximos dias, a depender do desfecho dos fatos. “O investidor deveria dar um desconto para caso de o Mercadante conseguir ‘atrapalhar’ algo na empresa e pelos dividendos, que ele deveria cortar”, diz.
Por volta das 15h20 (horário de Brasília), as ações ordinárias da empresa eram negociadas a R$ 38,97, o que representa uma queda de 0,38%. Na mínima intradiária, os papéis chegaram a ser cotados a R$ 38,22.
Já as ações preferenciais da companhia eram negociadas a R$ 38,04, uma alta de 0,42%. Na mínima intradiária, o papel foi cotado a R$ 37,33.
Segundo o colunista Lauro Jardim, de O Globo, Prates deve se encontrar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na segunda-feira (8). A reunião teria sido solicitada pelo executivo para pedir esclarecimentos sobre a sua permanência ou não no cargo. Prates abriu mão da vaga no Senado para assumir o posto, no início do governo.
Antes da sequência de ruídos em torno da Petrobras, que ganhou força em março com críticas do presidente Lula aos dividendos pagos pela empresa, gestoras estavam com uma visão mais positiva para as ações da companhia.
Levantamento feito pela Economatica, a pedido do InfoMoney, aponta que fundos de investimento detinham R$ 7,55 bilhões em posições que se beneficiavam da alta dos papéis preferenciais da empresa (PETR4), que são os mais negociados, em dezembro do ano passado, e que apenas R$ 50 milhões estavam alocados em exposições que apostavam na desvalorização das ações.
As composições dos fundos são informadas à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) com atraso, por isso a maior parte dos produtos ainda não divulgou as posições das carteiras em 2024.