Todos que optam por comprar um item de luxo falsificado têm seus motivos. Pode ser difícil resistir a uma oportunidade, especialmente quando é tentadora a emoção de enganar alguém e avançar temporariamente na escala social.
Pesquisadores acreditam, no entanto, que há outra razão por trás do recente aumento na demanda por produtos de luxo falsificados: a luta contra a crescente desigualdade de renda.
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Um estudo publicado pela City, University of London revelou que, à medida que aumentam as percepções de desigualdade de renda, os consumidores tendem a desejar mais bens de luxo contrafeitos pelo seu “valor igualitário”, ou seja, pela capacidade que esses bens têm de restaurar a igualdade na sociedade.
Acadêmicos da City University of London, da Stockholm School of Economics e da Harvard Business School entrevistaram 2 mil pessoas nos EUA e na Suécia, investigando suas percepções sobre hierarquias e desigualdade para identificar um novo fator que impulsiona a compra de produtos falsificados.
“O valor igualitário aumenta a motivação dos consumidores para comprar bens de luxo falsificados, para além do seu valor hedônico, utilitário, econômico ou de indicação de status”, escreveram os autores.
Deixe os jovens usar as bolsas
A França, onde Maria Antonieta descansa eternamente, é também o lar de algumas das maiores grifes do mundo, incluindo a gigante LVMH, de Bernard Arnault, e a Kering, proprietária da Gucci.
Assim como Maria Antonieta, essas influentes casas de moda enfrentam um julgamento crescente por parte do público, à medida que a desigualdade ganha mais destaque.
Em janeiro, a Benefit Cosmetics, que pertence à LVMH, estava em negociações para se unir à ByteDance, controladora do TikTok, com o objetivo de evitar o surgimento de uma onda de falsificações na plataforma.
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Na preparação para as Olimpíadas, a polícia de Paris tem trabalhado arduamente para tentar evitar uma enxurrada de operações de falsificação em toda a cidade.
A crise do custo de vida elevou a inflação para dois dígitos e reduziu a renda disponível, tornando as falsificações mais atraentes à medida que os consumidores buscam luxos mais acessíveis.
Embora os incentivos para a compra de produtos contrafeitos tenham aumentado devido à crise do custo de vida, a desigualdade também cresceu no mesmo período.
Estudos mostram que as regiões mais pobres enfrentam aumentos de preços mais significativos, à medida que as famílias com rendimentos mais baixos gastam uma parcela maior de sua renda em produtos inflacionários, como alimentos, em comparação com as famílias mais ricas.
Como forma de vingança, parece que os jovens estão começando a popularizar as falsificações, ajudando a eliminar seu prestígio exclusivista.
Os pesquisadores também analisaram a “orientação de dominação social” das pessoas, ou seja, até que ponto elas apoiam estruturas hierárquicas na sociedade que são baseadas em fatores como riqueza.
Pessoas com pontuações baixas nesse teste, e, portanto, menos inclinadas a apoiar hierarquias sociais, eram mais propensas a sentir um maior valor igualitário ao adquirir produtos falsificados.
“Acreditamos que esta pesquisa seja particularmente interessante porque liga a crescente desigualdade a formas ‘desviantes’ de consumo, como a compra de bens de luxo falsificados, sugerindo que a compra de produtos contrafeitos não é motivada por razões econômicas em si, mas sim para a pessoa alcançar um senso de igualdade social, ” explicou Wiley Wakeman, professor assistente da Stockholm School of Economics.
“Isso também levanta a questão de saber se os mecanismos que aumentam a exclusividade da marca — como manter listas de espera para relógios ou bolsas de luxo — podem, de forma contraintuitiva, promover o valor igualitário e o consumo de produtos falsificados, o que explicaria por que os consumidores optam por esses produtos.”
O verdadeiro custo
Embora os consumidores possam, pelo menos implicitamente, pensar que estão combatendo a desigualdade ao optar por uma Prada ou uma Dior falsificados, muito possivelmente estão fazendo o oposto.
Por serem ilegais, os produtos falsificados são produzidos em ambientes com graves níveis de exploração trabalhista, afirma o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime.
“Eles ameaçam a saúde pública através da produção de medicamentos fraudulentos; privam o setor público de receitas fiscais ao contornarem os canais oficiais; aumentam a despesa pública através do aumento do trabalho de aplicação da lei para combater este comércio ilícito; e empurram para cima o preço dos produtos legítimos à medida que as empresas procuram recuperar suas perdas”, afirma a ONU sobre os criminosos que lideram redes de falsificação.
Embora possa ser tentador ver a compra de produtos contrafeitos como um ato subversivo na luta pela igualdade, aqueles que consideram essa opção devem avaliar os riscos de serem pegos e pensar em outras maneiras de contribuir para a redução do Índice de Gini.
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