SÃO PAULO (Reuters) – As taxas dos DIs com vencimentos a partir de janeiro de 2026 fecharam a terça-feira em queda firme, acompanhando o recuo dos rendimentos dos Treasuries no exterior após a divulgação de dados favoráveis de inflação ao produtor nos EUA, enquanto as taxas dos contratos de curtíssimo prazo pouco se moveram e seguiram precificando alta da Selic em setembro.
No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 — que reflete a política monetária no curtíssimo prazo — estava em 10,75%, praticamente estável ante o ajuste de 10,744% da véspera.
Já a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 11,43%, em baixa de 11 pontos-base ante os 11,544% do ajuste anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,37%, ante 11,543%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 11,43%, em queda de 17 pontos-base ante o ajuste de 11,602%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 11,41%, ante 11,578%.
A terça-feira foi mais um dia de otimismo nos mercados globais, com investidores em busca de ativos de risco e projetando chances ainda maiores de corte de juros pelo Federal Reserve em setembro.
O movimento ocorreu na esteira da divulgação do índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) dos EUA, que subiu 0,1% na base anual em julho, depois da alta de 0,2% em junho, informou o Departamento do Trabalho. Economistas consultados pela Reuters previam um avanço de 0,2% no mês passado.
“Um dado abaixo do esperado fortalece a tese de corte de juros em setembro nos EUA, inclusive a possibilidade de 50 pontos-base de corte ganhando bastante força, ganhando espaço, para que o Fed não fique atrás da curva”, disse Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
“A gente verifica um dia de propensão a risco, com queda dos juros em diferentes vértices da nossa curva, acompanhando os juros norte-americanos, que vêm devolvendo prêmios também. E como consequência o dólar também se desvaloriza no mundo, e contra o real não é exceção”, acrescentou Spiess.
Neste cenário, as taxas dos DIs a partir de janeiro de 2026 tinham baixas firmes, superior a 15 pontos-base em alguns vencimentos mais longos, em sintonia com o fechamento da curva norte-americana.
No curtíssimo prazo, no entanto, as taxas dos DIs se mantiveram próximas da estabilidade. O contrato para janeiro de 2025 seguiu refletindo a perspectiva de que o Banco Central poderá elevar a taxa básica Selic no curto prazo.
Perto do fechamento a curva brasileira precificava 82% de probabilidade de alta de 25 pontos-base da Selic no próximo encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, em setembro. A probabilidade de manutenção em 10,50% ao ano estava em 18%. Na véspera, quando o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, afirmou que a alta dos juros “está, sim, na mesa”, os percentuais eram os mesmos.
Profissionais ouvidos pela Reuters nos últimos dias têm pontuado que, com a queda mais recente do dólar ante o real, a pressão para que o BC eleve a Selic no curto prazo diminuiu. Ainda assim, muitos fundos seguem posicionados em possíveis altas, o que mantém as taxas de curtíssimo prazo praticamente congeladas.
Um dos profissionais pontuou que o posicionamento na alta da Selic parece exagerado, ainda mais considerando a precificação implícita, na tarde desta terça-feira, nas curvas de juros de outros países até o fim deste ano: corte de 200 pontos-base nos EUA; redução de 160 pontos-base no Canadá; corte de 180 pontos-base no México; diminuição de 160 pontos-base no Chile; corte de 150 pontos-base na zona do euro; queda de 115 pontos-base no Reino Unido. Por outro lado, a curva brasileira precificava algo em torno de 148 pontos-base de elevação da Selic até o fim do ano.
Como a próxima decisão do Copom ocorre em cerca de um mês, em 18 de setembro, a avaliação é de que pode ocorrer uma desmontagem nestas posições de alta da Selic nas próximas semanas, se o câmbio continuar ajudando e os dados domésticos de inflação não piorarem.
Durante audiência pública conjunta das Comissões de Desenvolvimento Econômico e de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, reafirmou nesta terça-feira que a desancoragem das expectativas do mercado para a inflação preocupa.
“A gente tem tido uma desancoragem, ou seja, as expectativas têm subido. Isso obviamente é um fator que preocupa o Banco Central”, disse Campos Neto. “É importante que o Banco Central esteja sempre atento à missão de cumprir a meta (de inflação)”, acrescentou.
Enquanto a inflação acumulada em 12 meses apresentou alta em julho, alcançando o teto de 4,5% da meta de inflação, as expectativas do mercado para o IPCA estão em 3,97% para 2025 e 3,60% para 2026, segundo o boletim Focus.
Mesmo assim, o boletim Focus aponta que a mediana das projeções do mercado para a Selic no fim de 2024 está em 10,50% e no fim de 2025 em 9,75% — na prática, taxas bem diferentes das precificadas atualmente na curva de juros brasileira.
Às 16h38, o rendimento do Treasury de dez anos — referência global para decisões de investimento — caía 6 pontos-base, a 3,852%.