No primeiro debate presidencial democrata em 2019, Kamala Harris, então senadora pela Califórnia, lançou uma crítica contundente à economia de Trump.

A vice-presidente descreveu os cortes de impostos do presidente Donald Trump como um presente para os ricos, argumentou que o crescimento do mercado de ações estava deixando a classe média para trás e alertou que sua agenda comercial imprudente estava prejudicando os agricultores no interior do país.
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“Francamente, esta economia não está funcionando para os trabalhadores”, disse Harris. “Por tempo demais, as regras foram feitas para beneficiar os mais ricos, e não aqueles que mais trabalham.”

À medida que Harris se prepara para a possibilidade de substituir o presidente Joe Biden no topo da chapa democrata, ela agora enfrenta o desafio de apresentar sua própria visão para dirigir uma economia dos EUA que ainda luta com a inflação, ao mesmo tempo em que diferencia suas propostas das de Trump, que prometeu mais cortes de impostos e tarifas.

Harris tem sido uma defensora ferrenha da agenda econômica da Casa Branca durante a administração Biden, destacando os benefícios de legislações como o “Plano de Resgate Americano”, de 2021, e a “Lei de Redução da Inflação”, de 2022. Entretanto, como procuradora-geral e senadora, ela foi, às vezes, mais progressista do que o presidente, defendendo cuidados de saúde universais e buscando benefícios fiscais mais generosos para a classe trabalhadora americana, tudo financiado por aumentos de impostos para as empresas.

Nas últimas semanas, Harris iniciou um ‘tour de oportunidades’ econômicas, destacando que os aumentos salariais têm superado a inflação, que os empregos na indústria de transformação estão em crescimento e que os democratas têm se empenhado em perdoar dívidas de empréstimos estudantis. Esses argumentos são um prenúncio do que ela apresentará aos eleitores ao concorrer contra Trump.

“Às vezes somos criticados como democratas”, disse Harris em um evento em São Francisco este mês, acrescentando: “Mas também abordamos questões de longa data que representam obstáculos à criação de riqueza”.

Confira um panorama das posições que Harris adotou em relação à economia.

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Impostos

Como candidata presidencial, Harris propôs substituir os cortes fiscais realizados por Trump em 2017 por um crédito fiscal reembolsável mensal no valor de até US$ 500 para pessoas que ganham menos de US$ 100 mil. A política, conhecida como a “Lei para Erguer a Classe Média”, foi apresentada em 2018 e tinha como objetivo enfrentar o aumento do custo de vida, provendo dinheiro às famílias da classe média e trabalhadoras para ajudar a pagar as despesas diárias. Ela promovia sua proposta como uma maneira de reduzir a desigualdade de riqueza nos Estados Unidos.

Em 2019, Harris propôs aumentar os impostos sobre heranças dos ricos para financiar um plano de US$ 300 bilhões destinado a elevar os salários dos professores. Naquilo que foi descrito como o ‘maior investimento federal na remuneração dos professores da história dos EUA’, o plano proporcionaria um aumento salarial de US$ 13,5 mil para o professor médio nos Estados Unidos.

Biden e Harris tiveram algumas diferenças ao disputar a indicação democrata. Notavelmente, Harris queria aumentar os impostos sobre as corporações de 21% para 35%, acima dos 28% que Biden havia proposto.

Moradia

Na semana passada, o governo Biden apresentou um plano para exigir que empresas proprietárias de imóveis residenciais limitem os aumentos de aluguel a 5% e pediu ao Congresso que apoie investimentos em unidades habitacionais mais acessíveis.

Harris fez da habitação acessível uma prioridade durante seu mandato no Senado e sua campanha presidencial, mas adotou uma abordagem diferente. Ela propôs a “Lei de Alívio de Aluguel”, que teria dado créditos fiscais reembolsáveis, permitindo aos locatários que ganham menos de US$ 100.000 recuperar custos de moradia superiores a 30% de sua renda.

Para apoiar os mais pobres, Harris também pediu a disponibilização de financiamento de emergência para os sem-teto e a alocação de US$ 100 bilhões para comunidades onde as pessoas tradicionalmente enfrentam dificuldades para obter empréstimos para habitação devido à discriminação.

Comércio

Durante um debate nas primárias democratas no final de 2019, Harris classificou Trump como ‘errático’ em relação à política comercial e afirmou que suas guerras tarifárias prejudicaram os produtores de soja do Iowa, que sofreram retaliações estrangeiras. Harris afirmou que se concentraria em reforçar as exportações americanas e declarou: “Não sou uma democrata protecionista”.

No que diz respeito à China, Harris disse que Pequim precisava ser responsabilizada pelo roubo de propriedade intelectual e pelo dumping de exportações fortemente subsidiadas para mercados estrangeiros.

Na semana passada, ela repetiu suas críticas anteriores a Trump ao discutir seu plano de impor tarifas de 10% sobre todas as importações para os Estados Unidos. Segundo ela, tal política inflacionaria o custo da gasolina, alimentos e roupas.

“Suas tarifas aumentariam o custo das despesas diárias das famílias”, disse Harris em um evento na Carolina do Norte.

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Regulamentação

Harris, que atuou como procuradora-geral da Califórnia de 2011 a 2017, também se concentrou fortemente na proteção do consumidor. Em 2016, ela ameaçou processar a Uber se a empresa não retirasse seus carros autônomos das estradas do estado.

Após a crise financeira de 2008, ela retirou a Califórnia de um acordo nacional com os grandes bancos, utilizando seu poder para arrebatar um valor maior dos principais credores hipotecários. Ela depois anunciou que os proprietários de casas na Califórnia receberiam US$ 12 bilhões em alívio hipotecário sob o acordo.

Contudo, Harris tem sido criticada por não ter processado o OneWest Bank ou seu CEO à época, Steven T. Mnuchin, após o Departamento de Justiça da Califórnia ter constatado ‘má conduta generalizada’ nas práticas de execução hipotecária do banco. Posteriormente, Mnuchin foi nomeado secretário do Tesouro de Trump.

NYT: ©.2024 The New York Times Company