A preocupação com as mudanças climáticas e a necessidade de preservação do meio ambiente têm levado cada vez mais pessoas a adotar atitudes e hábitos de consumo mais sustentáveis. Assim, a moda circular ganha força, com princípios de reutilização e redução de desperdício. Seguindo essa tendência, a Peça Rara Brechó está em expansão. A previsão da marca é fechar 2024 com um volume de mais de 5 milhões de peças vendidas, atingindo cerca de R$ 300 milhões em faturamento, quase o dobro do registrado no ano passado (R$ 156 milhões).
“É nítida a mudança no comportamento de consumo. Antes, havia muito preconceito, mas isso vem diminuindo. Temos visto uma aceitação cada vez maior por roupas, acessórios e itens para casa de segunda mão, ampliando a vida útil desses produtos”, destaca Bruna Vasconi, fundadora e CEO da marca. Segundo ela, a rede de franquias conta atualmente com 180 lojas comercializadas, sendo 115 em operação. Até o final do ano, a expectativa é chegar a 250 lojas comercializadas, com 150 em funcionamento.
A primeira loja da Peça Rara foi fundada em 2007, em Brasília. Bruna Vasconi conta que, na época, tinha “vinte e poucos anos” e faltavam alguns meses para se formar em psicologia. Para pagar a mensalidade e sustentar a família, pois foi mãe jovem, ela vendia lingeries, semijoias e chocolates. “Eu era a ‘famosa’ sacoleira”, diz Vasconi. Contudo, com a formatura, ela perderia uma parte significativa da clientela e, até se consolidar profissionalmente, precisaria de recursos. Em meio a essa preocupação, lembrou-se de uma reportagem sobre um brechó infantil e decidiu empreender.
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No início, ela teve que pedir R$ 7 mil emprestados à avó, enquanto sua sócia entrou com a mesma quantia para montarem uma loja de roupas usadas para crianças. Porém, apenas três meses depois, Bruna percebeu que tinha outras ideias e preferiu seguir sozinha, criando a marca Peça Rara Brechó, ampliando o mix de produtos para incluir moda feminina, masculina e infantil, além de artigos de decoração.
Após o sucesso da primeira unidade na Asa Sul, em Brasília, vieram outras. Em 2021, quando a empresa contava com sete lojas próprias e quatro unidades franqueadas, recebeu um aporte do fundo de private equity do grupo SMZTO, holding de franquias. “Desde então, temos trabalhado no fortalecimento da marca e na expansão acelerada. Contamos não apenas com investimentos, mas também com a expertise do grupo”, afirma Bruna.
Em meados de 2022, houve um novo impulso ao crescimento. A atriz Deborah Secco conheceu a marca e se tornou sócia. “Além de ser a embaixadora da marca, Deborah participa ativamente dos negócios. Tenho uma relação próxima com ela e, sempre que apresento desafios, ela contribui com ideias e iniciativas”, destaca a CEO. A marca carrega um propósito. “Deborah é uma atriz consagrada, tem outros negócios e assumiu um compromisso conosco. Nesses dois anos, ela mergulhou na empresa, trazendo um posicionamento relevante para sua carreira. Hoje, ela é reconhecida por seu envolvimento com a sustentabilidade”, acrescenta Bruna.
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Para novos franqueados, o investimento, considerando a taxa de franquia, capital de giro e a montagem de uma loja de 300 metros quadrados, gira em torno de R$ 500 mil. Recentemente, foi lançada a loja pocket, com até 100 metros quadrados, voltada para cidades menores, que custa cerca de R$ 200 mil.
Consignação
A Peça Rara Brechó trabalha com peças em consignação. As equipes nas lojas realizam a triagem de roupas, acessórios e itens de decoração de pessoas interessadas em vendê-los. “O estoque mínimo para inaugurar uma loja é de três mil peças. Por isso, realizamos um trabalho direcionado aos franqueados para que divulguem e contratem influenciadores, estimulando as pessoas a fornecer esses itens”, explica Bruna Vasconi, CEO da marca.
Ela lembra que, quando montou a primeira loja, não tinha muitos recursos, e o modelo de consignação ajudou a fazer a operação decolar. Após a criação do estoque inicial, as lojas abrem um serviço de atendimento aos fornecedores para reposições. As unidades da Peça Rara Brechó recebem, em média, 15 pessoas interessadas em negociar itens por dia, sendo que, em lojas mais maduras, esse número chega a 40.
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“Avaliamos item a item, precificamos em comum acordo, colocamos no sistema e emitimos um recibo de consignação. Não tenho nada contra os brechós que compram por lotes, mas no nosso modelo, avaliamos cada peça para que as pessoas tenham um retorno que faça sentido”, afirma.
O pagamento aos fornecedores é feito no mês subsequente às vendas dos itens. Por meio de um aplicativo, eles são informados quando as peças foram vendidas e podem solicitar a transferência do dinheiro. Outra opção é utilizar os créditos obtidos em compras na loja.
A Peça Rara seleciona roupas em bom estado, mas também realiza pequenos reparos e higieniza itens atrativos com potencial de recuperação, contribuindo para o desenvolvimento da economia circular.
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As peças que não passam na triagem das lojas ou que são doadas por clientes são encaminhadas para o Instituto Eu Sou Peça Rara, que realiza bazares para apoiar ações sociais. No ano passado, as vendas dessas peças, com valores simbólicos, resultaram na arrecadação de R$ 700 mil, destinados a entidades parceiras e à construção de uma creche em um bairro carente de Brasília. “Construímos uma creche para cuidar de cerca de 300 crianças e planejamos fazer outras”, destaca a CEO.
Brechós em evolução no Brasil
O Brasil contava com 118.778 brechós ativos em 2023, segundo levantamento do Sebrae, com um crescimento de 31% em cinco anos. Conforme a entidade, 78% são microempreendedores individuais (MEIs). Além da Peça Rara Brechó, existem outras três marcas que fazem parte da Associação Brasileira de Franchising (ABF): Giralook Brechó Infantil, Repitikos e Cresci e Perdi.
A Enjoei (ENJU3), que se destaca com sua plataforma online de moda circular e é listada na Bolsa, comprou 25% da Cresci e Perdi com o objetivo de expandir também para o varejo físico. A transação totalizou R$ 30 milhões e foi concluída no final de janeiro deste ano. A marca tem uma estratégia específica para avançar no offline com itens de segunda mão em moda adulta. Já são três lojas físicas próprias abertas na cidade de São Paulo, e a comercialização de franquias foi iniciada em agosto, com a expectativa de fechar contratos nos próximos meses. A ambição da Enjoei é alcançar 300 unidades de franquias até 2027, segundo informações disponíveis em sua página de relações com investidores.