O Banco Central do Brasil adotou definitivamente uma estratégia similar à do Federal Reserve (Fed, o BC americano) ao manter a Selic no mesmo patamar de 10,50% ao ano e avisar que esse nível deve prevalecer elevado por mais tempo. Ou seja, o “mais alto por mais tempo” (higher for longer) chegou por aqui, avaliam os economistas.
Para Rodolfo Margato, economista da XP, o BC deixou bem claro em sua comunicação que o cenário externo continua incerto e que houve piora também no campo doméstico, com piora nas projeções de inflação e ampliação da desancoragem das expectativas, se afastando da meta de 3% buscado pelo BC.
Para ele, chamou a atenção no comunicado o ponto sobre a condução da política monetária adiante, trazendo a necessidade de manutenção da Selic em patamar restritivo por mais tempo. “Nossa interpretaão foi se sinalização de ‘higher for longer”, disse Maluf durante live do InfoMoney no Youtube
Continua depois da publicidade
Cenário alternativo para os juros
O economista citou especificamente a volta na comunicação de um cenário alternativo pelo BC, que seria de manutenção da Selic no atual patamar em 2025 – o Boletim Focus ainda prevê os juros em 9,0% no final do próximo ano. “A projeção do IPCA ficaria em 3,1%, ligeiramente acima da meta. É uma forma de dizer de que os juros vão ficar no patamar atual por bastante tempo.
Artur Wichmann, executivo-chefe de investimentos do private banking da XP, que também participou da live, acredita que essa volta do cenário alternativo também pode trazer uma interpretação de que uma alta de juros não está necessariamente no radar do BC. “Quando coloca a manutenção de 10,50% por todo o horizonte relevante e inflação na meta, o modelo mostra que não é necessário um juro mais alto”, disse.
André Leite, de diretor de investimentos da TAG, comentou que a unanimidade da decisão do Copom veio no sentido de preservar a institucionalidade da autarquia, pro afastar interpretações de uma votação política. “Isso vai tirar prêmio de rico do mercado. A curva futura já estava projetando uma alta”, comentou.
Continua depois da publicidade
Leonardo Costa, economista do ASA, concordou que a decisão e o comunicado de hoje passaram uma mensagem de neutralidade na maior parte dos pontos, sem indicar a possibilidade de subida de juros, mas indicando manutenção do patamar elevado por mais tempo.
Ele citou como principais pontos do comunicado a piora das projeções do modelo do Banco Central, como o IPCA de 2024 passando de 3,8% para 4,0%, enquanto o de 2025 foi de 3,3% para 3,4%. E com a piora da inflação do ano corrente acontecendo a despeito da redução da projeção para o grupo de preços administrados. Isso mostra, segundo ele, que o BC segue reforçando a preocupação com as expectativas, notando a “ampliação da desancoragem”.
Ele também citou a volta do cenário alternativo, de manutenção da taxa básica em 10,5% no ano que vem, trazendo o IPCA para 3,1%, mais próximo da meta. * seguem reforçando a preocupação com as expectativas, notando a “ampliação da desancoragem”.
Continua depois da publicidade
Fim do ciclo?
Para Tatiana Pinheiro, economista-chefe de Brasil da Galapagos Capital, a decisão de hoje não trouxe surpresa, dada a deterioração recente da taxa de câmbio e das expectativas de inflação.
Além das projeções de inflação mais altas, ela citou o último parágrafo do comunicado como : relevante: “a política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”.
Na opinião de Tatiana, ao dizer que dizer que se manterá vigilante e que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta, o Copom indicou que o ciclo de juros foi interrompido e não pausado.
Continua depois da publicidade
Na opinião de José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos, o Copom fez com isso uma firme declaração de compromisso com meta de inflação, especialmente na parte do cenário alternativo necessário para a inflação convergir à meta.
“Na questão fiscal, do meu ponto de vista houve uma surpresa no sentido de que o Copom manteve a mesma ênfase do comunicado da reunião passada. “Minha expectativa era de uma ênfase maior à questão fiscal, dado tudo o que aconteceu.”
Nicolas Borsoi, da Nova Futura Investimentos, foi outro economista a comentar o destaque dado ao aumento da desancoragem das expectativas de inflação e ao cenário desafiador, que implicam em uma maior serenidade e moderação na condução da política monetária.
Continua depois da publicidade
“Outro ponto de destaque, o comitê inseriu o termo ‘se manterá vigilante’ e disse que ‘eventuais ajustes na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso com a convergência da inflação à meta”, reforçou Bosoi.
“Nossa visão era de que a decisão ótima para o Copom seria manter a taxa Selic de forma unânime, com um comunicado ‘hawkish’ e acreditamos que o texto de hoje cumpre essa função”, avaliou.
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, por sua vez, comentou que, no final do comunicado, o BC deixou porta aberta para fazer ajustes, caso necessário e dependendo de como se comportar a dinâmica da economia. “Diante da dinâmica de um câmbio desvalorizado e expectativas subindo, seria mais provável subir a taxa do que cai. Mas o mais provável é manter em 10,50%.”
Marco Antonio Caruso, economista chefe do PicPay, disse que a decisão de hoje mostrou um Copom pragmático. “Primeiro, entregou o consenso esperado pelo mercado, com uma decisão unânime entre os nove diretores de parar o corte da Selic. Por outro lado, o comunicado não jogou mais lenha na fogueira das altas de juros que estão apreçadas pelo mercado”, explicou.
Para ele, o documento até trouxe uma passagem que abre a porta para uma alta, mas é discreta: “o Comitê se manterá vigilante e relembra, como usual, que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”. “Como vemos atualmente uma desancoragem das expectativas, é possível ler que o Comitê não tira da mesa a possibilidade de subir juros, ainda que de maneira leve.”