A notificação acaba de chegar ao seu telefone. Três dias até a entrevista de emprego! Felizmente, você ficou em modo de preparação a semana toda. Você escolheu suas roupas, estudou as responsabilidades da função e decorou alguns exemplos de coisas que demonstram suas habilidades mais relevantes.
Você se preparou várias vezes para tirar qualquer dúvida que o recrutador possa ter. Você até criou algumas perguntas de acompanhamento para fazer no final:
- Quem são seus principais concorrentes?
- Do que você mais gosta ao trabalhar aqui?
- Quais são as próximas etapas do processo de entrevista?
- Você está pronto – mais do que pronto – para conquistar esta oportunidade. Certo?
Bem… devagar. Vamos dar um passo para trás e ver onde você pode ter errado.
Continua depois da publicidade
Do que candidatos a um emprego costumam esquecer
A maioria dos candidatos a empregos já está ciente do método testado e comprovado de se preparar com perguntas para fazer ao entrevistador. No entanto, muitos ainda aguardam até o final da entrevista para fazê-las, esperando que o gerente de contratação pare e pergunte: “Você tem alguma dúvida que eu possa tirar?”
Isso representa um descuido e uma oportunidade perdida de se destacar entre os demais candidatos. Pesquisas indicam que fazer perguntas durante a entrevista faz com que o gerente de contratação se sinta mais engajado e propenso a ver o candidato de maneira favorável. Além disso, esse hábito proporciona informações mais valiosas sobre a função.
Uma ótima entrevista de emprego costuma fluir mais como uma conversa, uma via de mão dupla em que ambas as partes estão curiosas para ver se há um encaixe mútuo. Sim, há um diferencial de poder em jogo, especialmente se você realmente deseja ou precisa do trabalho. Mesmo assim, você ainda está entrevistando a pessoa do outro lado da linha, da tela ou da mesa, assim como ela está entrevistando você. Considere isso como sua chance de avaliar os valores e a cultura da equipe e da organização em geral.
O segundo erro que os candidatos cometem é não fazer as perguntas certas ou formular as perguntas de maneira confusa. Quando bem planejada, uma pergunta pode ter um grande impacto. Ela pode demonstrar seu interesse genuíno na empresa, sinalizar competência, construir relacionamentos, desbloquear informações e ajudar o entrevistador a entender como você pensa. Por outro lado, quando uma pergunta é ampla, imprudente ou simplesmente mal interpretada como tal, pode fazer com que você pareça ignorante, ingênuo, presunçoso ou até preguiçoso.
Com base em minhas conversas com diversos recrutadores e coaches de carreira, seguem algumas dicas para ajudá-lo a fazer perguntas mais esclarecedoras durante sua próxima entrevista de emprego e aumentar suas chances de conseguir uma oferta.
O palavreado pode aumentar (ou arruinar) suas chances
Para elaborar uma pergunta perspicaz, você precisa ser intencional tanto no assunto quanto no formato. Isso significa que não se trata apenas do que você diz, mas também de como você o diz. A última coisa que você quer é enfatizar inadvertidamente a coisa errada e parecer arrogante ou sem noção. Encontre a seguir algumas perguntas que podem ser interpretadas como sinais de alerta, apesar de sua intenção positiva, e saiba quais você deve fazer em vez delas.
Continua depois da publicidade
Esta pergunta clássica pode inicialmente parecer demonstrar grande ambição, já que muitos profissionais estão ansiosos para avançar rapidamente. No entanto, o jeito como é formulada pode fazer com que pareça inadequada. Kyle Elliott, coach de carreiras em tecnologia, recomenda uma alternativa: “você pode me contar mais sobre o processo que a empresa utiliza para apoiar o crescimento dos colaboradores?”
Esta frase foca mais nos processos internos da organização, sugerindo que você está interessado em aprender como a empresa funciona, em vez de simplesmente em conseguir um aumento ou um título sofisticado.
“Embora esta pergunta ainda cubra sua dúvida inicial sobre aumentos ou promoções, ela desvia o foco do interesse próprio”, explicou Elliott. “Embora o salário e o cargo sejam importantes, você também precisa pensar no negócio.”
Ao reformular sua pergunta dessa maneira, você poderá obter uma resposta que ofereça pistas valiosas sobre a cultura da empresa, os caminhos de desenvolvimento profissional e a existência de oportunidades de crescimento.
Você gosta de trabalhar aqui?
Em suas experiências anteriores como recrutadora corporativa, Sarah Johnston ouviu muitas perguntas constrangedoras. Fundadora da Briefcase Coach, uma empresa boutique de RP em consultoria de carreiras executivas, ela hoje orienta os candidatos a reconsiderarem sua abordagem ao solicitar a opinião pessoal de um entrevistador sobre seu empregador.
“Você ficaria surpreso com a quantidade de candidatos a emprego, em todos os níveis, que fazem essa pergunta!”, disse Johnston.
Por que você não deveria perguntar isso? Porque é provável que você não receba uma resposta honesta.
“Os recrutadores são treinados para serem embaixadores de suas organizações. Eles apresentarão uma visão refinada de sua empresa”, explicou. “Mesmo que sejam transparentes em relação aos desafios, muitas vezes apresentam uma imagem mais otimista do que a realidade.”
Evite perguntar aos entrevistadores do que gostam ou o que mudariam em sua organização.
Em vez disso, Johnston recomenda fazer perguntas com base em sua pesquisa. “Isso demonstra seu interesse na oportunidade e mostra que você toma iniciativa”, disse. “Você também obterá respostas mais transparentes ao fazer perguntas informadas.”
Experimente algo como: “você pode descrever como seria um dia típico de trabalho nesta função?” Fazer essa pergunta demonstra claramente que você realmente pode se ver trabalhando na organização.
Quantos dias por semana vocês exigem que os colaboradores trabalhem presencialmente?
Algumas funções são claramente designadas como remotas ou presenciais, enquanto outras (conhecidas como híbridas) podem exigir que se passe algum tempo em um ambiente de escritório. Farouk Dey, vice-reitor fundador de aprendizagem integrativa e projeto de vida da Universidade Johns Hopkins, tem uma sugestão sobre o que perguntar quando o nível de flexibilidade que um emprego oferece não está claro.
“Dada a era pós-Covid, parece que a maioria dos jovens candidatos quer perguntar sobre flexibilidade, arranjos de trabalho, híbrido/remoto etc.”, observou Dey. “Posso só imaginar como devem ter sido estranhas essas conversas nos últimos meses.”
Segundo Dey, ao questionar esse tipo de detalhe logo de cara você pode sugerir, involuntariamente, que fará o mínimo na função. Ele sugeriu uma opção diferente: “Supondo que um colaborador tenha um desempenho acima das expectativas, qual é o equilíbrio que a organização prefere entre trabalho presencial e remoto?”
Enfatizar flexibilidade no contexto dos resultados enfatiza como a organização se beneficiará das suas contribuições. Incluir a palavra “prefere” demonstra que você está seguindo as convenções existentes e aceitando a opinião do gerente de contratação. Você se mostra como um parceiro colaborativo que está atento a objetivos mais amplos.
Esta pergunta carregada pode fazer parecer que você não é um empreendedor já logo do início. Kate Smalkin é vice-presidente sênior de parcerias de talentos e empregadores na Climb Hire, uma organização nacional sem fins lucrativos focada em qualificação. “De modo geral, basta um ou dois minutos de conversa para os recrutadores saberem se estão fazendo progresso com um candidato”, explicou.
Os candidatos precisam transmitir que fizeram sua lição de casa sobre a empresa e a função e que “reservaram um tempo para elaborar perguntas que realmente aprofundem a substância, não apenas a mecânica da função/empresa”.
Uma abordagem mais eficaz para compreender o equilíbrio entre vida pessoal e profissional seria perguntar: “você poderia descrever a cultura da equipe na qual estou interessado em ingressar?” Isso permite que você entenda mais sobre o ambiente de forma indireta e possa ter conversas mais aprofundadas sobre cargas de trabalho e expectativas à medida que avança para os estágios posteriores do processo de recrutamento.
Suas perguntas podem deixar uma impressão significativa. Smalkin observou que ela rejeitou candidatos que, de outra forma, seriam fortes porque não fizeram perguntas ou as perguntas que fizeram eram superficiais ou careciam de uma abordagem mais aprofundada. “Por outro lado, defendi candidatos menos experientes porque suas perguntas eram muito incisivas. Funciona nos dois sentidos.”
Outras perguntas que podem levantar bandeiras vermelhas e valem a pena mencionar:
POSSO TIRAR FÉRIAS LOGO DEPOIS DE SER CONTRATADO? Talvez possa. Mas é melhor deixar isso de lado até que você tenha uma oferta em mãos. Caso contrário, uma possível folga pode parecer ser muito importante.
UMA PERGUNTA MELHOR: Vocês incentivam os colaboradores a tirarem folgas?
VOCÊ TERIA CONSELHOS PARA ME DAR SOBRE ESTA FUNÇÃO? Não, o recrutador não tem. Essa pessoa não é seu treinador ou confidente. O trabalho dela é avaliar sua experiência, aptidão e interesse na função.
UMA PERGUNTA MELHOR: Como essa função contribui de forma significativa para os objetivos da organização?
Vários especialistas compartilharam um bom exemplo de poder de permanência: “Qual é o critério de sucesso para esta posição?” Não tem como errar se perguntar aonde leva a abordagem certa. Se você não ainda incluiu esta pergunta em sua lista, acrescente-a agora.
Cada entrevista pode parecer uma grande oportunidade. Mesmo as conversas iniciais com recrutadores e gerentes de contratação podem ser assustadoras. Suas emoções podem estar a toda. Afinal, há muito em jogo. Os resultados podem alterar não só sua situação financeira imediata, mas também sua base, seu estilo de vida ou o de sua família, até mesmo a trajetória de sua carreira.
O que você diz é importante e o que você pergunta revela suas prioridades subjacentes. Ao mostrar que você se preocupa com o panorama geral e com sua contribuição para ele, você se posiciona melhor para parecer um profissional consciente e dedicado. Também pode significar a diferença entre uma busca mais demorada ou conseguir a função desejada.
HBR: ©.2024 Harvard Business School Publishing Corp.
Distribuído por The New York Times Licensing Group