Colocado à prova no último final de semana, o sistema de defesa antimísseis de Israel se mostrou altamente eficiente ao interceptar ataques do Irã, evitando mortes e um conflito imediato na região. Por trás do chamado Domo de Ferro, grandes empresas israelenses têm trabalhado como nunca para atender ao salto na demanda por soluções de defesa, especialmente após a guerra na Ucrânia, em 2022. Longe da esfera militar, empresas e governos, incluindo o brasileiro, utilizam há anos a tecnologia israelense. 

Militares de Israel mostram o que dizem ser míssil iraniano 16/4/2024 REUTERS/Amir Cohen

Duas estatais de grande porte, a Rafael Advanced Defense Systems e a Israel Aerospace Industries (IAI), estão no centro dessa tecnologia antimísseis que, segundo as Forças de Defesa de Israel, conseguiram interceptar 99% dos 300 mísseis e drones lançados contra o território. O sistema de defesa aérea funciona por camadas. Cada altitude, distância e área de operação trabalha com um tipo de tecnologia desenvolvido pelas companhias. 

Após décadas de investimento governamental e pesquisa, em 2011, o Domo de Ferro foi lançado pela Rafael e IAI, inicialmente pensado para interceptar mísseis de curta distância nos conflitos com o Hamas, na Faixa de Gaza. Desde então, a tecnologia foi aperfeiçoada com suporte de empresas norte-americanas e passou a interceptar ataques de longa distância entre países e mísseis balísticos. 

Encomendas em alta

Fato é que, com os desdobramentos da guerra entre Rússia e Ucrânia, vários países do entorno do conflito buscaram proteção em seus sistemas aéreos, elevando os pedidos por soluções dessas empresas israelenses, referência em defesa no mundo.  

A Elbit Systems, empresa privada e outra grande fornecedora de soluções de defesa de Israel, viu suas receitas aumentarem 8% no final de 2023, para US$ 5,974,7 bilhões, puxada principalmente pela demanda na Europa e Ásia-Pacífico.  

Objetos são vistos no céu acima de Jerusalém depois que o Irã lançou drones e mísseis contra Israel – 14/04/2024 (Reuter/Ronen Zvulun)

A IAI alcançou vendas recordes de aproximadamente US$ 5,327 bilhões em 2023. A carteira de pedidos subiu para cerca de US$ 18 bilhões, o que, segundo a empresa, representou o ano de maior sucesso até o momento.

Amit Louzan, CEO da Ituran, autotech de monitoramento veicular que utiliza tecnologia israelense, diz que a fila de pedidos por soluções militares de Israel cresceu porque é de lá que vem a capacidade para interceptar mísseis balísticos de longa distância, ameaça temida por boa parte dos países.

O Domo de Ferro só funciona graças à ação conjunta das companhias. “Cada uma das empresas atua em sua respectiva área dentro desse sistema de colaboração entre as indústrias”, comenta. 

Evitando tragédias

Marcos Barbieri, professor da Unicamp e especialista em indústria aeroespacial, avalia que sem o nível de eficiência do sistema, o ataque do último sábado provavelmente teria um grau de destruição “muito grande”. 

“Todos esses sistemas foram desenvolvidos basicamente pelas 3 empresas, geralmente liderados pela IAI, com participação pesada da Rafael e da Elbit, a depender do sistema utilizado”. 

Barbieri observa que o forte apoio de empresas americanas, além do trabalho desenvolvido dentro de institutos de pesquisa públicos de Israel ligados às Forças Armadas e universidades, foi fundamental para o desenvolvimento dessa tecnologia. 

Além de evitar mortes no ataque efetuado pelo Irã, o sistema possibilitou a Israel postergar uma resposta militar. “O governo ganhou tempo para pensar em uma reação, vantagem importante na tomada de decisões”, afirma. 

Na última quinta-feira (18), seis dias após o ataque de mísseis e drones do Irã, foi noticiado que Israel teria lançado um ataque aéreo de drones contra o Irã. A mídia estatal iraniana confirmou que baterias de defesa antiaérea foram ativadas após relatos de explosões. As forças militares israelenses não confirmaram oficialmente os ataques.

As maiores da defesa israelense 

Rafael Advanced Defense Systems 

  • Especialidade: sistemas avançados em armas e tecnologia militar. Chegou a ser uma subsivisão do Ministério da Defesa. Fornece tecnologias de defesa e é uma das maiores fornecedoras das Forças de Defesa de Israel. 
  • Ano de fundação: 1948 
  • Encomendas anuais: US$ 4,7 bilhões (NIS 29 bilhões em 2023) 
  • Receita anual: renda estimada em $2,37 bilhões de dólares (2016) 
  • Funcionários: cerca de 8 mil 
  • Encomendas anuais: US$ 4,7 bilhões  

Israel Aerospace Industries (IAI)

  • Especialidade: líder global em inovação aeroespacial. Sua principal área de atuação abrange o desenvolvimento e produção de aeronaves militares, sistemas de mísseis, satélites, veículos aéreos não tripulados (UAVs) e sistemas de segurança cibernética. Forneceu produtos e serviços para o Ministério de Defesa brasileiro. 
  • Ano de fundação: 1953 
  • Receita em 2023: US$ 5,3 bilhões 
  • Funcionários: 14 mil 
  • Encomendas anuais: US$ 15,6 bilhões  

Elbit Systems  

  • Especialidade: Fornece soluções tecnológicas avançadas para as forças armadas e a segurança nacional. É especializada em sistemas integrados, como veículos aéreos não tripulados (UAVs) e sistemas de comando e controle e de equipamentos para os carros de combate Merkava. Possui capital aberto em bolsa. 
  • Ano de fundação: 1996 
  • Receita em 2023: US$ 6 bilhões 
  • Funcionários: 18,4 mil 
  • Valor de mercado: US$ 8,9 bilhões