A ampliação do mercado livre de energia para consumidores menores e a expansão das fontes eólica e solar na matriz elétrica brasileira têm levado a um aumento nas negociações no Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia (BBCE). 

Segundo o diretor de Produtos, Comunicação e Marketing da BBCE, Eduardo Rossetti, as operações estão relacionadas sobretudo à busca das comercializadoras por “travar preços”, para se proteger dos riscos ligados às operações de clientes menores e da compra de energia gerada por fontes intermitentes, que dependem das condições climáticas para operar. 

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“O consumidor final traz mais risco. Quem está atendendo esse cliente vai ver mais oscilação de volume, vai ter mais energia sendo negociada. Tem uma demanda para poder ‘travar’ esse risco, gerenciar o portfólio. E, certamente, o local para fazer isso é onde está a liquidez, onde você encontra a oportunidade de fazer isso de forma segura”, diz. 

No mercado livre de energia, o consumidor pode escolher o fornecedor de energia elétrica, em uma contratação direta com o gerador ou por meio de uma comercializadora. No Brasil, esta opção ainda é restrita a clientes de média e alta tensão. 

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Balcão tem volume recorde e permite negociar risco

A BBCE funciona como uma espécie de “bolsa de valores” e permite com que os agentes desse mercado possam negociar entre si os contratos de energia e derivativos, com liquidez. 

“A plataforma dá essa possibilidade de você transacionar riscos”, diz Rossetti. 

Em operação desde 2012, a plataforma da BBCE é acessada por 2 mil usuários de 200 diferentes empresas, a maioria comercializadoras de energia. 

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Em setembro foram transacionados 41,9 mil gigawatt-hora (GWh), com uma movimentação financeira de R$ 11,3 bilhões, recorde histórico. O volume é 65,4% maior que o operado no mesmo mês de 2023.

Foram fechadas, ao todo, 9.878 operações — crescimento de 374,7% em comparação com setembro de 2023. Com isso, o valor médio de cada contrato foi R$ 1,14 milhão

Segundo Rossetti, os números de setembro refletem também a maior volatilidade no mercado com a estiagem que o país enfrenta e que está afetando os preços da energia. 

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“O modelo [do setor elétrico] ainda responde muito à entrada de chuva e a gente está com um reservatório um pouco mais estressado, o que leva a uma volatilidade maior ainda de preços”, diz. 

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Abertura do mercado de energia ampliou os riscos

Ele ressalta, no entanto, que o crescimento também reflete a ampliação do número de consumidores no mercado livre. A partir de janeiro de 2024, todos os clientes de média e alta tensão passaram a ter a opção de ingressar no ambiente livre, o que inaugurou o mercado de varejo na comercialização de energia. 

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Com isso, eventuais variações no consumo dos clientes das comercializadoras tendem a gerar riscos de sobras de energia, por exemplo, que estão sendo negociadas na plataforma.

“As comercializadoras têm um portfólio de pequenos clientes. A tendência é que esse portfólio se compense, mas evidentemente vai ter sobras e faltas de acordo com o mês”, explica. 

Tendência é volume de negócios crescer ainda mais

O diretor da BBCE lembra que a tendência é que os volumes transacionados cresçam ainda mais quando houver a abertura total do mercado também aos consumidores de baixa tensão. As regras para essa liberalização ainda estão em discussão no governo e a tendência é que isso ocorra ao final desta década ou no começo da próxima. 

Rossetti explica que, quando isso ocorrer, os consumidores finais de menor porte não devem se tornar clientes diretos da plataforma, mas a tendência é que as comercializadoras ampliem as negociações. 

“As comercializadoras vão vir para cá, porque a BBCE também é onde você consegue alocar os seus riscos de preço. Então, a plataforma é onde os agentes do mercado se encontram para poder trocar risco de mão”, diz. 

A BBCE está se preparando para esse momento com melhorias na performance da plataforma, de modo a atender a esse crescimento das negociações. 

Na visão do executivo, a abertura do mercado vai ser saudável para o ambiente de negócios do ambiente livre. 

“O mercado entende que precisa ser mais seguro e precisa trabalhar na autorregulação, nas formas de controle próprio”, defende. 

Com o crescimento do mercado livre no Brasil, este ano o país passou a ter uma segunda plataforma de negociações, a N5X, Uma parceria entre a Nodal Brazil, do grupo European Energy Exchange (EEX), e o fundo L4 Venture Builder, apoiado pela B3. 

Para Rossetti, a competição no mercado é saudável e mostra o potencial do mercado brasileiro de negociar valores expressivos, à exemplo de outros mercados semelhantes no exterior. 

“Isso mostra que esse é um mercado com potencial que está atraindo outros entrantes”, diz.