Após um primeiro semestre no vermelho, o Ibovespa vem se recuperando neste mês de julho, com alta pouco superior a 3%, tendo se aproximado, inclusive, dos 130 mil pontos e emendando onze altas seguidas.

Tudo isso em reais. No entanto, quem observa o principal índice da Bolsa brasileira sobre sua perspectiva em dólares enxerga um cenário bem menos positivo, mas que, para especialistas, pode trazer oportunidades de ganhos aos investidores, sobretudo os estrangeiros.

Enquanto o Ibovespa acumulava uma queda de cerca de 4,9% em 2024 até o fechamento dessa quinta-feira (19), o índice em dólar recuava 15,15%. Essa performance pior é explicada pela combinação entre a queda do índice e a desvalorização do real frente ao dólar, com a moeda americana subindo quase 15%. 

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Gráfico do Ibovespa em dólares em 2024

Fonte: Investing

Do lado do investidor brasileiro, a performance do Ibovespa em dólar, para especialistas, quer dizer pouca coisa. “O real está muito desvalorizado frente ao dólar, mas a maioria das empresas brasileiras têm seu fluxo de caixa em reais. Só aí já é um ponto importante”, diz Anderson Silva, especialista em mercado de capitais da GT Capital. 

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A valorização ou desvalorização do dólar, com a operação das companhias se mantendo estável, então, não afeta diretamente o valor em reais das ações dessas empresas, apenas sua equivalência em dólares.

Ibovespa barato para estrangeiros

No entanto, a discrepância entre a performance do Ibovespa “em reais” e em “dólares” abre a visão de que a Bolsa brasileira está, no momento, barata para estrangeiros. 

“O investidor brasileiro precisa se atentar aos investimentos de acordo com a sua moeda. O Ibovespa nas máximas em reais e o dólar forte aqui pode, porém, ser um sinal de que a bolsa está barata para o investidor estrangeiro, e podemos sim, em algum momento ver a bolsa brasileira negociar a múltiplos mais justos” complementa Silva. 

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Hoje, a leitura do mercado ainda é de que o Ibovespa negocia a múltiplos muito baixos, com o P/L (preço das empresas sobre lucro) em menos de 9x, com a média histórica sendo de 10x. 

E se a variação do dólar não muda a vida de companhias que operam mais no mercado interno, que gastam e ganham em reais, do outro lado, a alta pode beneficiar as que vendem para fora.

Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, expõe que nomes grandes como a Vale (VALE3), Petrobras (PETR4), Suzano (SUZB3) e JBS (JBSS3) devem ter, com o enfraquecimento do real, seus faturamentos subindo enquanto os gastos ficarão estáveis. Isso deve aumentar os lucros e, decorrentemente, diminuir os múltiplos. 

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“São papéis que o dólar está do lado da receita. Em algumas delas mais, algumas menos, mas os custos e as despesas, de qualquer forma, sobem menos. Então acaba tendo um descasamento”, diz o especialista.

“Quando você pega aqui também por múltiplos, preço e lucro, você vê também que existe, sim, espaço para a nossa bolsa ir para cima”.

Para ele, quando gatilhos positivos, como os próximos cortes de juros nos EUA e talvez no Brasil, saírem do papel, é possível que o estrangeiro olhe para o desconto e venha com um fluxo positivo.