Os dados do mercado de trabalho americano em março divulgados nesta sexta-feira (5) começaram a balançar a confiança dos economistas de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) vai começar a promover cortes em suas taxas de juros na reunião de junho. Embora o crescimento salarial em 12 meses tenha abrandado, a manutenção do ritmo das contratações em níveis altos elevou a incerteza.
Como os diretores do Fed tem insistido que serão cada vez mais dependentes de dados para a tomada de decisão da política monetária, as atenções se voltam agora para a divulgação da inflação ao consumidor (CPI), na semana que vem, e do índice das despesas de consumo pessoal (PCE) no final de abril.
Os Estados Unidos criaram 303 mil vagas de trabalho fora do setor agrícola no mês de março, bem mais que a criação de 200 mil vagas no mês esperada pelo mercado.
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Para André Cordeiro, economista sênior do Inter, o resultado do payroll – que mostrou criação de 303 mil vagas de trabalho fora do setor agrícola no mês de março, bem mais que as 200 mil esperadas pelo mercado – aumenta a incerteza sobre os próximos passos da política monetária americana.
“Powell [Jerome Powell, presidente do Fed] já disse que o comitê deseja ter maior confiança de que a inflação está consistentemente convergindo para a meta de 2%. Para isso, ele gostaria de ver a continuidade de bons dados de inflação e um mercado de trabalho menos aquecido. Até o momento, em 2024, não vimos nem um nem outro, o que coloca em dúvida o início do ciclo de cortes na reunião de junho”, analisou.
Cordeiro disse ainda que o mercado passa a precificar apenas dois cortes nas taxas esse ano, o que vai em linha com as declarações que alguns membros do Comitê deram essa semana. Nas últimas projeções do Fed, os diretores ainda mantiveram a previsão de três cortes.
Pressões inflacionárias
Andressa Durão, economista da ASA Investments, por sua vez argumentou que o aumento do emprego com crescimento moderado dos salários ainda “conversa” com a narrativa do Fed de crescimento do emprego impulsionado pela oferta.
No entanto, ela ponderou que o dado de hoje, traz dúvidas sobre a sustentabilidade de um ritmo tão forte de emprego sem gerar pressões inflacionárias. “Acreditamos que os dados de hoje não devem mudar as perspectivas para o início do ciclo de corte de juros, mas confirmam que o Fed deve agir com cautela”, opinou.
Para a economista, os próximos dados de inflação, começando pelo CPI na semana que vem, serão extremamente importantes para definir este cenário. “Esperamos que o Fed corte juros a cada duas reuniões, com o primeiro corte em junho”, estimou.
Andre Fernandes, sócio da A7 Capital, também disse que suas apostas ainda se concentram em uma queda de juros em junho ou julho nos EUA, mas que os dados do PCE de março podem deixar o cenário mais claro. “Isso deve dar maiores pistas sobre o número de cortes de juros que podem ocorrer esse ano”, opinou.
Luis Otávio Leal, sócio e economista chefe da G5 Partners, também manteve, por ora, a minha projeção de redução dos juros já em junho, com três cortes ao longo do ano. Mas admitiu que está cada vez mais difícil manter esse call. “O próprio mercado já está começando a desistir disso e está migrando para setembro”, afirmou. “Acho que até mais decisivo do que esse payroll para a formação das expectativas do mercado vai acabar sendo o CPI na semana que vem.”
Mas Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, está mais cautelosa, uma vez que os números sugerem uma economia americana robusta, com mercado de trabalho aquecido e inflação pressionada. “Na nossa visão, esse cenário reduz as chances de o Fed começar a cortar juros ainda neste semestre”, comentou.
“Na última reunião, o banco central americano sinalizou que poderia fazer três reduções de juros ainda neste ano. Acreditamos, entretanto, que haverá dois cortes, ou menos, até o fim de 2024.”
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