O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira (PT), ainda busca a inclusão dos agrotóxicos e dos alimentos ultraprocessados no Imposto Seletivo na regulamentação da reforma tributária.

O tema ficou fora do projeto de lei de regulamentação aprovado nesta semana pela Câmara dos Deputados.

Baixe uma lista de 11 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de crescimento para os próximos meses e anos

Continua depois da publicidade

“Espero que o Senado corrija algumas decisões da Câmara. Agrotóxicos e ultraprocessados têm de estar no imposto seletivo, inclusive para subsidiar o fato de não ter imposto para frutas, verduras e proteínas”, defendeu Teixeira, em conversa com jornalistas.

A pasta apresentou uma série de demandas para a reforma tributária ao Grupo de Trabalho da Câmara dos Deputados. “Na Câmara, conseguimos um imposto maior para bebidas açucaradas. Agora, tentaremos um tributo maior no Senado para agrotóxicos perigosos e alimentos com alto processamento”, disse.

Para Teixeira, são medidas necessárias do ponto de vista da saúde pública. “O efeito do ultraprocessados e dos agrotóxicos são muito ruins para a saúde e causam doenças graves, como a obesidade, no caso dos ultraprocessados. No primeiro momento, quem venceu esse debate na Câmara foi o lobby da indústria de agrotóxicos e de ultraprocessados. Agora, o Senado tem de fazer esse debate com a sociedade”, avaliou o ministro.

Continua depois da publicidade

O Senado vai avaliar o projeto de regulamentação da tributária a partir de agosto.

Hoje, os insumos agropecuários estão sob o escopo do regime diferenciado, com alíquota reduzida em 60% ante a geral. O setor produtivo é contrário às medidas, alegando que a maior taxação dos agroquímicos inflaciona o custo de produção e que sobretaxar alimentos ultraprocessados torna inviável o acesso da população de baixa renda a estes produtos.

“No mundo inteiro os ultraprocessados estão [no imposto seletivo], porque no Brasil não? Hoje a nossa tributação incentiva os ultraprocessados. O que o mundo inteiro faz é um incentivo cruzado: isentar alimentos in natura e tributar mais os ultraprocessados”, questionou o ministro em relação ao “imposto do pecado”.

Continua depois da publicidade

Em relação aos agrotóxicos, o ministro defende que sejam tributados pelo imposto seletivo os insumos químicos de alta periculosidade e alta toxicidade – lista regida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

“À medida que tributa pela periculosidade e toxicidade, há proteção à saúde e ajuda a induzir a substituição de produtos químicos por biológicos, na transição para agricultura mais verde. Temos que concentrar atenção nisso e acelerar isso pela via tributária e pelo desenvolvimento de novos produtos”, observou.

Cesta básica

Para Teixeira, a cesta básica de alimentos isentos de impostos é adequada. “É muito positiva essa medida porque, de fato, é preciso dar conta da necessidade familiar de uma família. Esses produtos são fundamentais na cesta básica. A decisão de incluir proteínas na cesta básica é importante”, afirmou o ministro, sobre a inclusão das proteínas na cesta básica isenta, o que ocorreu por meio de destaque ao texto base aprovado.

Continua depois da publicidade

Pela lista aprovada na Câmara terão alíquota zero: arroz; leite fluido pasteurizado ou industrializado, na forma de ultrapasteurizado, leite em pó, integral, semidesnatado ou desnatado; e fórmulas infantis definidas por previsão legal específica; manteiga; margarina; feijão; raízes e tubérculos; cocos; café; óleo de soja e óleos de babaçu; farinha de mandioca; farinha, grumos e sêmolas, de milho e grãos esmagados ou em flocos, de milho; farinha de trigo; açúcar; massas alimentícias; pão do tipo comum (contendo apenas farinha de cereais, fermento biológico, água e sal); óleos de milho; aveia e farinhas; carnes bovina, suína, ovina, caprina e de aves, miúdos e produtos de origem animal; peixes e carnes de peixes (exceto salmão, atum, bacalhau, hadoque, saithe e ovas; queijos tipo mozarela, minas, prato, coalho, ricota, requeijão, provolone, parmesão, fresco não maturado e do reino; e sal.

O ministro afirmou ainda que o governo agora terá de buscar mecanismos para garantir que a retirada de impostos sobre as proteínas animais garanta a redução do preço do produto aos consumidores finais.

“É preciso captar quanto há de imposto no preço atual para chegar ao preço mais baixo do povo. Se tirar imposto e o valor for capturado pelo produtor, vai desmoralizar a medida”, apontou.

Continua depois da publicidade

Teixeira defende que haja acompanhamento cotidiano de preços entre governo e setor produtivo, como vem sendo feito com o arroz, mas refutando qualquer tabelamento de preços dos produtos.

Sobre a disputa pela “paternidade” da alíquota zero para as proteínas – oposição, governo e bancada do agro disputam os méritos da medida -, Teixeira foi categórico: “O único produto que o presidente Bolsonaro pode apadrinhar é o leite condensado”, criticou.

A disputa pela narrativa da responsabilidade suscitou em virtude de a equipe econômica do governo ser inicialmente contrária à isenção das proteínas, apesar da defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) da medida.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), também era contrário à isenção, enquanto a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) era favorável à isenção desde o início da discussão do projeto de regulamentação.