As ações de empresas de baixa capitalização de mercado, ou small caps, vêm apresentando neste ano um desempenho inferior ao da Bolsa. Enquanto o Índice Small Caps (SMLL) caía cerca de 17% no ano até o dia 20 de junho, o Ibovespa (IBOV) recuava 10%. Seria esse um bom momento para comprar esse tipo de papel? Qual seria o potencial retorno de ações de small caps que pagam bons dividendos?
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Uma simulação feita por Vicente Guimarães, sócio da VG Research, para o InfoMoney levantou quanto um investimento de R$ 20 mil em small caps boas pagadoras de dividendos poderia render. Guimarães afirma que, ao longo dos últimos dez anos, o SMLL teve uma valorização média “pífia”, de apenas 64%. Ele pondera que a última década foi tumultuada, pois o país passou por uma recessão nos anos de 2015 e 2016, um impeachment, uma pandemia, uma tentativa de ruptura institucional em 8 janeiro de 2023 e pela elevação dos juros nos países desenvolvidos.
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O passo a passo para viver de dividendos, começando já nas próximas semanas
No entanto, Guimarães lembra que, no índice composto por 150 empresas, há companhias de todos os tipos: “Existem muitas empresas com desempenho péssimo, cujas ações praticamente viraram pó, e muitas empresa com desempenho excelente, com ações que valorizaram acima de 1.000%”.
Ele considera que o fato de uma small cap pagar dividendo de forma consistente é um sinal de qualidade: “Primeiro, porque só empresas com bons lucros conseguem pagar dividendos e, segundo, porque somente empresas com lucros bons e consistentes conseguem pagar dividendos de forma consistente no tempo.”
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A recorrência de pagamentos de dividendos é mais difícil nas small caps, pois muitas dessas empresas estão em crescimento e podem usar os lucros para se financiar. No entanto, também há companhias que pagam dividendos de forma recorrente, já que não têm planos de expansão – um dos exemplos, diz Guimarães, é a Graziotin (CGRA4), varejista da região Sul. Ou mesmo grandes empresas que pagam dividendos recorrentes, mas que passam a ser consideradas small caps porque suas ações estão descontadas na bolsa.
Entraram na simulação as ações com bons dividendos médios nos últimos cinco anos (retorno com dividendos ou dividend yield médio de 6,8%), mas, para os cálculos, foi considerado que elas teriam dividend yield de 6% ao ano nos próximos anos. “Ao analisar as ações destas empresas pagadoras de dividendos, notamos que tiveram um desempenho anual muito acima das demais ações do índice SMLL”. A simulação levou em conta uma valorização média de 10% ao ano dessas ações, percentuais que Guimarães considera conservador para os melhores ativos.
Fonte: VG Research
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Capital Inicial de R$ 20 mil
Período | Sem Reinvestimento | Com reinvestimento |
5 anos | R$ 32.259,82 | R$ 42.000,00 |
10 anos | R$ 52.034,80 | R$ 88.000,00 |
20 anos | R$ 135.381,00 | R$ 390.000,00 |
Capital Inicial de R$ 20 mil + Aporte Mensal de R$ 500
Período | Sem Reinvestimento | Com reinvestimento |
5 anos | R$ 70.000,00 | R$ 86.000,00 |
10 anos | R$ 151.000,00 | R$ 225.000,00 |
20 anos | R$ 496.000,00 | R$ 1.130.000,00 |
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De acordo com a simulação, um investimento de R$ 20 mil em uma carteira de small caps que pagam bons dividendos teria dobrado ao fim de cinco anos, para R$ 42 mil, e alcançaria R$ 390 mil em vinte anos – mas desde que o investidor reinvestisse na própria carteira todos os proventos que recebesse. “O reinvestimento dos dividendos é vital para essa estratégia”, afirma. Sem ele, os resultados são bem mais modestos: ao fim de 20 anos, o investidor teria acumulado R$ 135 mil, ou três vezes menos do que com o reinvestimento. “Essa breve comparação mostra a essencialidade de reinvestir os dividendos e porque esses são responsáveis por mais de 50% do desempenho de qualquer carteira de ações no longo prazo”, afirma Guimarães.
A carteira escolhida é composta por IRANI (RANI3), Banco BMG (BMGB4), Mitre (MTRE3), Graziotin (CGRA4), Valid (VLID3) Kepler Weber (KEPL3) e Profarma (PFRM3) com dividend yields de, respectivamente, 10%,10%, 12%, 7%, 7%, 6% e 7% – o retorno com dividendos foi calculado com base na projeção de lucro dessas empresas.
Thiago Pedroso, responsável pela mesa de renda variável da Criteria Investimentos, considera que uma alta de 10% anual para as boas small caps não é só possível, mas que os percentuais podem até ser superiores. “Uma valorização de 10% ao ano mais 6% de dividend yield não é um retorno tão superior ao da renda fixa. Se o investidor tem uma visão de longo prazo, pode ter uma carteira que, aos níveis atuais de mercado, pode gerar até retornos superiores. O grande ponto é que esse retorno não é linear”, afirma.
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A chave para obter bons retorno com uma carteira de small caps é a seleção dos papeis, já que, nas palavras de Pedroso “o universo das small caps é muito amplo”. Ele lembra que as empresas podem se encaixar ou não no conceito a depender do momento. A queda das cotações da Embraer (EMBR3), por exemplo, fez com que ela há uns tempos fosse considerada como uma empresa de baixa capitalização. Hoje, uma companhia do porte da Sanepar (SAPR11), empresa de saneamento que atua no Paraná, é considerada small cap. “Algumas são ações líquidas, de empresas que têm receitas altas, e não condizem com o conceito, mas são consideradas small caps nos momentos em que o valor de mercado ficou descontado”, diz Pedroso.
Ele considera que não necessariamente investir em small caps é mais arriscado do que nas large caps, apesar da elevada volatilidade do primeiro tipo de ação: isso depende da seleção dos papeis – até mesmo porque, como geralmente esses papeis negociam a preços mais descontados que as blue chips, podem ter um potencial de baixa (downside) menor. “Quanto mais baixa a cotação, menor o risco adicional.”
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A questão é justamente diferenciar as ações descontadas pelo atual cenário de juros altos, mas com bons fundamentos, daquelas descontadas porque suas perspectivas são negativas. No momento, ele considera que as small caps estão, de forma geral, muito baratas por conta dos juros elevados no Brasil e no exterior – e não há previsibilidade de quando esse cenário irá mudar. Outro ponto é que os fundos de ações continuam registrando resgates e não há fluxo para a renda variável. “Há empresas baratas e boas e empresas que estão baratas, mas vão ficar ainda mais.”
Pedroso recomenda a compra de small caps para a diversificação da carteira, mas desde que o investidor vise retornos a médio e longo prazo e que trimestralmente reavalie o portfólio. “Se o investidor estiver bem-posicionado e tiver feito as escolhas certas, em algum momento o ciclo do mercado vira”, afirma. Por conta da baixa liquidez e da volatilidade, Guimarães, da VG Research, alerta que a estratégia é interessante apenas para aqueles com mais conhecimento do mercado e com o foco no longo prazo: “É para o investidor que tem estômago”.
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